«HÁ IRREGULARIDADES GRAVÍSSIMAS NA SIDES»
Por Joana Leal e Sara Graveto
Luís Arouca, um dos fundadores do ensino superior privado português, fala-nos do projecto da UnI, atacando violentamente a gestão da SIDES.
Pergunta: Em Dezembro, o prof. Frederico Arouca afirmou ao corpo docente da UnI, via e-mail, que foram feitas em seu nome transferências financeiras não autorizadas. E continuou:”Deixei de acreditar” [ver artigo neste blogue]. Como vê estas declarações? Sente que o seu sonho acabou?
Resposta: A responsabilidade dessas afirmações pertence ao prof. Frederico Arouca. Mas secundo das suas afirmações. O que está profundamente em causa é a gestão da nossa entidade instituidora (e por isso responsável pela gestão da Uni) – a SIDES. A UnI, do meu projecto, não tem nada. Esta série de irregularidades gravíssimas [praticadas pela SIDES] acaba por afectar a UnI. Embora as minhas funções sejam apenas referentes à parte pedagógica da UnI, não deixo de me sentir fortemente afectado pela instabilidade criada pela gestão da SIDES. O rumo da gestão é muito discutível. A solução é pôr nos eixos a SIDES.
P.: Considera que as declarações do prof. Frederico Arouca resultam de uma má gestão da UnI? Como encara o futuro da UnI de ora em diante? Quais são as expectativas?
R.: Acho que as declarações do prof. Frederico Arouca têm, seguramente, e pelo que conheço, uma base de muito realismo e muita verdade. Aquilo que o prof. Frederico questiona, fortemente, são os critérios e a orientação que a direcção da SIDES tem vindo a tomar na gestão da Uni.
P.: A UnI comemora agora o seu 13º aniversário. Que balanço faz?
R.: É um balanço positivo. Embora reconheça também que ficou muito aquém do que gostaria que fosse. E a razão disto é que a SIDES tem perspectivas comerciais, que muitas vezes chocam profundamente com a Universidade.
P.: Foi isso que aconteceu na UnI?
R.: Aconteceu e acontece, mas não só na UnI. O cenário é um pouco semelhante em todo o ensino privado português. Na UnI, a entidade instituidora é a SIDES, a qual mantém perspectivas comerciais. Ora, uma perspectiva comercial dificilmente é conciliável com uma perspectiva científica. O que acaba por interferir nos assuntos pedagógicos e científicos da Universidade, resultando num bloqueamento grande da UnI. Embora não procure intervir demasiado, no fundo acaba por condicionar. E isto porque na realidade a atribuição de verbas pertence-lhe.
P.: O que falhou na parceria com o IPAM [ver artigo neste blogue]?
R.: A realização de fusões deve-se ao facto de a UnI, tal como outras instituições privadas, ser gerida por uma entidade instituidora – a SIDES. Quando existem problemas económicos, há duas formas de tentar ultrapassá-los – a criação de sinergias ou uma injecção financeira. A UnI optou por uma ligação a outra instituição, numa primeira fase com o IPAM. A ligação com o IPAM foi feita a pensar numa criação de sinergias. O IPAM era um instituto com prestígio, embora que com uma linha um pouco diferente da UnI, visto que era uma instituição de nível politécnico. O objectivo da fusão era uma sinergia académica, porém acabou por resultar numa sinergia económica. Houve um grande choque de interesses. A sinergia económica impôs-se à sinergia académica. Acabando, assim, por não resultar em parceria.
P.: Depois, voltaram a tentar outra parceria, desta vez com os angolanos...
R.: Tentou-se a fusão com a UnI de Angola, o que acabou também por não resultar. Todavia, nesta fusão as dificuldades de natureza económica acentuaram-se mais, face à parceria com o IPAM. E foram essas dificuldades que bloquearam o sucesso da parceria.
P.: Dado que esteve na génese da criação de três universidades privadas portuguesas, que análise faz do seu contributo para o surgimento/ desenvolvimento do ensino privado em Portugal?
R.: Trouxe flexibilidade ao ensino universitário. O ensino privado apareceu em Portugal num período muito conturbado da nossa história, a seguir ao 25 de Abril. Era preciso relançar a universidade como hipótese alternativa. E foi precisamente essa necessidade que levou à criação da Universidade Livre. Porém, as divergências internas não tardaram…Houve logo uma clivagem de natureza ideológica. Uma ala, mais conservadora, criou a Universidade Lusíada, enquanto que uma outra ala, mais liberal, criou a Universidade Autónoma [de Lisboa]. Essa ala mais liberal, liderada por mim e pelo prof. dr. Manuel Damásio, via a universidade como um dos pólos dinamizadores da transformação da sociedade portuguesa. A todos os níveis.
P.: Actualmente, o ensino superior português está a atravessar um processo de transformação. Segundo a UE, as universidades portuguesas têm que implantar o Processo de Bolonha até 2010. Na UnI, quais foram as principais alterações para implantar Bolonha?
R.: O que fizemos não foi muito diferente do que fizeram as outras universidades. Tentámos com a rapidez necessária, mas também com a rapidez exigida, implantar um novo processo. O Bolonha afectou também os alunos que se encontravam na fase final dos cursos, fazendo com que a sua licenciatura fosse reconhecida no espaço europeu.
P.: E que implicações terá este modelo de ensino na sociedade portuguesa?
R.: No antigo modelo, o aluno tinha dificuldades em afirmar-se. Era um modelo no qual o mestre é que sabia, o que fazia com que o aluno não se sentisse motivado. O Bolonha vem pôr cobro a isto. Apesar de estar a ser implantado em Portugal só agora, a verdade é que há muito que os países anglo-saxónicos o praticam. Todo o mundo evoluído percebeu que a educação é o fruto do desenvolvimento. Os ingleses criaram o Bolonha. No qual há uma parte primária e uma parte secundária. Uma parte generalista e uma parte em que aprendemos a pensar. E nessa parte, em que inovamos e desenvolvemos novas técnicas, contribuímos para o desenvolvimento da sociedade portuguesa.
P.: No seu ponto de vista, e tendo em conta que se formou pelo anterior modelo de ensino, o que têm os jovens portugueses a ganhar com Bolonha?
R.: A formação universitária do meu tempo não era em nada semelhante à de hoje. Tínhamos aulas todos os dias. Das 8h00 da manhã às 18h00 da tarde. Tentava-se não misturar a componente prática do ensino com a teórica. Para além disso, estudei muito mais lá fora do que em Portugal. Não sou, portanto, um produto do nosso antigo sistema de ensino. Defendo, por isso, Bolonha. Bolonha é na realidade um paradigma completamente diferente do paradigma que se vive em Portugal e nos países subdesenvolvidos da Europa. Bolonha é realmente o caminho! Sem a mais pequena dúvida. Não só para o mercado de trabalho interno, mas sobretudo para um mercado de trabalho globalizado.
P.: Continuará a exercer as funções de reitor?
R.: Não sou eu quem decide se continuo ou não a exercer as funções de reitor. O que não quer dizer que não possa vir a ser reeleito... Porém, coloca-se o problema da idade. Ninguém é eterno.
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