DO «SABER-FAZER» AO «SABER-SABER»
Por Jorge Monteiro
Para dar cumprimento às exigências de Bolonha, condição sine qua non para a homologação dos seus cursos superiores, as universidades procederam a necessárias reestruturações dos seus currículos académicos. Em entrevista por e-mail, a professora Vanda Sousa, directora do curso de Ciências da Comunicação da UnI, explica como actuou esta Universidade.
Pergunta: Em linhas gerais, o que mudou na filosofia «imposta» por Bolonha a nível dos objectivos curriculares exigíveis aos alunos, quer da licenciatura, quer do mestrado?
Resposta: Bolonha impôe-se como um desafio que pretende alcançar a diferença entre o «saber-fazer» e o «saber-saber». Criando uma distinção entre os dois primeiros ciclos do ensino universitário, Bolonha estabelece como meta, para o primeiro, o «saber-fazer». Isto é, pretende-se que as licenciaturas sejam mais fortemente marcadas por uma componente técnica e tecnológica, mais do que por uma componente teórico-especulativa. Assim, o primeiro ciclo aparece dividido em seis semestres, por regra (verificando-se excepções nas licenciaturas que estabelecem ligações a ordens profissionais), que perfazem 180 créditos, os quais devem, tanto quanto possível, corresponder aos interesses e motivações dos discentes. Para isso, Bolonha pressupõe uma grande «construção» dos próprios currículos dos cursos, sendo desejável que o aluno aí tome parte activa. Tome-se, como exemplo, a «escolha» das disciplinas opcionais (30 créditos) e a possibilidade de estas serem realizadas em qualquer faculdade, quer da universidade que se frequenta quer em ligação com esta, a partir de acordos e protocolos, tais como o já existente Projecto Erasmus. Quanto ao segundo ciclo, este pode ser concebido quer como profissionalizante quer como académico. A este segundo ciclo pertence o «saber-saber», que não estará tão presente no primeiro ciclo.
P.: O projecto de Bolonha exige, como habilitação mínima para o corpo docente, o grau de mestrado. Como vai a UnI fazer face a essa condição a nível de professores que, tendo já dado provas da sua competência no passado, não sejam, no entanto, portadores desse grau académico?
R.: Quanto ao projecto Bolonha e à sua relação com os docentes, a meta colocada (2010) é uma eficiente forma de implicar o docente no processo de docência e ainda de discência. Preconizar a formação de mestres e de professores doutores é, sem dúvida, um investimento ao nível do corpus académico. De qualquer forma, Bolonha prevê a participação de especialistas nas diferentes áreas ministradas, o que permite um intercâmbio eficaz e interessante entre o mundo académico e o mundo profissional.
P.: O domínio da língua inglesa constitui um sério problema, para alunos e não só. Contudo o projecto de Bolonha prevê aulas bilingues, até por causa da livre circulação dos alunos no espaço europeu. Que medidas estão a ser implementadas para suprir essa incontornável lacuna?
R.: Quanto ao inglês como segunda língua, que este é um desafio que não demorará muito a confirmar-se, a ultrapassar-se, já que a implementação do inglês e da informática, ao nível do ensino básico, permitirá ultrapassar qualquer dificuldade que se possa antever de momento.
P.: Bolonha veio para ficar. Numa palavra: mudamos para melhor?
R.: Mudamos para melhor, acredito que sim!
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