quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

O falhanço de um projecto

Por Jorge Paulino

O edíficio da UnI Foi a primeira fusão no ensino universitário privado, resultante do acordo entre a Universidade Independente (UNI) e o Instituto Português de Administração e Marketing (IPAM), nascendo, desta forma, a terceira maior universidade privada portuguesa, traduzida num universo de cerca de 5.000 estudantes. Durou apenas oito meses.

Os primeiros passos do processo que conduziu à ligação entre as duas instituições foram dados pela UnI. Rui Verde, seu vice-reitor, começa por referir: «Já anteriormente, de forma, mais ou menos artesanal, tínhamos efectuado alguns contactos com a Moderna e a Internacional, que não resultaram. Precisávamos de uma forma profissional de abordagem». Assim, surge no projecto o BCP Investimentos, que, após efectuar um estudo de mercado, aponta o IPAM como parceiro ideal para as intenções da UNI.
Caetano Alves, presidente do concelho de administração da Ensigest, empresa gestora do IPAM, vai ser o rosto neste processo: «Na altura estávamos a estudar a possibilidade de fazer algumas operações no mercado do ensino superior, para crescermos mais rapidamente, dentro de um conjunto de parâmetros estabelecidos dentro da nossa estratégia». Estariam assim reunidas as condições para o avanço das negociações, até porque: «Fusões, concentrações ou parcerias serão inevitáveis», acrescenta o homem forte do IPAM. Dr Caetano Alves O passo seguinte foi moroso: «Houve um trabalho feito pelas administrações da Ensigest e da Sides [entidade responsável pela gestão da UnI] que durou perto de um ano, conduzindo a uma troca de acções entre as duas empresas gestoras, e traduzindo-se, na prática, na mudança dos nossoalunos para o edifício da UnI», explica Caetano Alves.
Tudo parecia bem encaminhado quando, em Janeiro de 2005, os alunos do IPAM e da UnI passaram a conviver nas instalações da Av. Marechal Gomes da Costa. Estava concretizada a primeira fusão de universidades no país, traduzida num conselho de administração único, liderado por Caetano Alves, apesar de «entre as universidades propriamente ditas, não ter havido fusão, pois a ideia era que o IPAM se tornasse numa das faculdades da UnI, conforme existem as de Humanidades, Artes, Direito e Tecnologias», especifica Rui Verde.
Por esta altura começaram os problemas, nomeadamente na área da reitoria, que no papel deveria ser única. E se ao nível dos rostos da mudança as coisas caminhavam cordialmente («eu e o dr. Caetano Alves sempre nos demos bastante bem»), a base do projecto, que deveria ser sólida, começou a desmoronar-se: «Ao nível das reitorias as coisas não funcionavam, muitas vezes só funcionavam entre mim e ele», acrescenta Verde. Fachada principal do edíficio do IPAM O ambiente foi-se degradando, e o fim da fusão rapidamente se tornou numa realidade: «Hoje, visto à distância, tudo teve a ver com a cultura organizacional», observa Caetano Alves, que, sem se deter, continua: «O IPAM é uma instituição muito pouco universitária, muito virada para o mercado, onde tudo o que se aprende e ensina, o seu objecto tem que ser muito evidente. A UnI tinha uma cultura mais universal de instituição de ensino, com associação de estudantes, com a necessidade de reflectir muito sobre as coisas, com as decisões a demorarem a ser tomadas. A dificuldade de relacionamento era estrutural, e a até talvez, organizacional».
A visão do lado da UnI não anda muito longe da anterior: «A fusão falhou por duas razões: primeiro devido a um choque de ideias e personalidades; e em segundo lugar por uma certa questão de cultura, o IPAM tinha uma cultura diferente da nossa, nem digo se era melhor ou pior, era diferente», explica o vice-reitor. Daí até ao fim, tudo foi rápido: «As coisas não se articulavam, ou mandavam uns ou mandavam outros; como não se chegou a acordo de quem mandava, desfez-se a fusão». Dr Rui Verde A fusão, oficialmente, terminou no dia 1 de Setembro, oito meses depois do arranque.
Lambidas as feridas desta união falhada, as duas instituições têm ideias bem diferentes quanto ao seu futuro. Caetano Alves não descarta nova fusão, mas «neste caso fizemos apenas uma avaliação financeira, o que claramente não chega – além de financeiras, precisamos de fazer avaliações patrimoniais, fiscais, avaliar muito bem o projecto, os recursos e a liderança». E garante: «Não voltaremos a cometer os mesmos erros».
Opinião oposta tem a UnI: «Fusões nunca mais, só aquisições, se tivermos dinheiro e capacidade», defende Verde, acrescentando: «Foi trágico para nós tudo este processo, que criou uma instabilidade na universidade que ainda hoje não terminou».
Como em quase todos os processos produtivos, o relacionamento e organização dos recursos humanos é indispensável para o bom funcionamento de uma estrutura que se quer sólida, coesa e preparada para manter, de forma intransigente, o rumo traçado à partida.
Nada disto aconteceu na vida, curta, da fusão UnI/IPAM.

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