quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Professores na ordem

Talvez esta fosse uma boa opção Por Cândida Fontes e Ruthilene Silva

Será o actual sistema de controlo de professores, o mais indicado? Um deles não gostou e bateu com a porta.

O jornalista Óscar Mascarenhas, convidado a leccionar na UnI no primeiro semestre do corrente ano lectivo, não gostou do sistema de controlo horário dos professores e resignou do cargo no início das aulas – segundo apurámos da leitura de mensagens de e-mail que enviou aos restantes docentes de Ciências da Comunicação.
Ao inaugurar as suas lições da cadeira de Jornalismo de Investigação (4º ano), em 28 de Setembro passado, Mascarenhas deparou com o novo método de registo de entrada e saída de professores, através do preenchimento de uma folha de sumário, no guichê da secretaria, antes e depois de cada aula. Acto contínuo, enviou uma mensagem por e-mail aos restantes professores: «Dei ontem a minha primeira aula na UnI e estou a considerar se não terá sido a última», começava por anunciar. «Somos horariamente controlados por uma funcionária. Senti-me humilhado (...). Fui CONVIDADO a ser professor naquela escola e exijo ser tratado como CONVIDADO. Não aceito esta forma de controlo e faço tenções de (...) anunciar aos meus alunos que outro professor virá em meu lugar, a não ser que o regime seja alterado. Se os meus queridos colegas quiserem fazer alguma reflexão em conjunto sobre isto, marquem data e hora, mas desde já advirto que estou mais para lá do que para cá. Estou revoltado!» O local do controlo O professor Fernando Cascais, que tem funções de coordenação do curso na área de Jornalismo, respondeu então no mesmo dia a Mascarenhas tentando pôr água na fervura, numa mensagem também enviada aos restantes professores. Cascais reconhecia o problema e preconizava o seu aperfeiçoamento: «Talvez haja formas de melhorar o sistema, com muito menos incómodo para os docentes.» Mas admitia essa necessidade, invocando a existência de «abusos» anteriores por parte do corpo docente: «Quando há abuso (e julgo tê-lo havido, os próprios alunos se terão queixado), o justo tende sempre a pagar pelo pecador. Os docentes têm um contrato que fixa um horário e obedece a um regulamento, e é legítimo que a universidade vele pela sua aplicação, devendo no entanto evitar que a suspeita de incumprimento paire sobre a cabeça de todos.»
Ao mesmo tempo, Cascais escrevia ao professor João Carlos Santos, coordenador da faculdade, exprimindo preocupação com o caso e falando de outros professores insatisfeitos: «Recebi, até agora, três mensagens de outros tantos docentes de disciplinas da vertente Jornalismo indignados com o sistema de registo de sumários e de presenças posto em vigor este ano. Nenhum põe em causa a legitimidade de a Universidade verificar o cumprimento do contrato, mas sentem-se incomodados com a forma de controlo adoptada. Admito que não prossigam a sua função docente.» O professor solicitava ainda que o sistema fosse repensado: «A situação preocupa-me, por isso a levo à sua consideração e ponderação, no sentido de se encontrar um sistema que, salvaguardando os interesses da Uni e dos seus alunos, não gere nos docentes o presente mal-estar.» A polémica andou por estes corredores De qualquer modo, Mascarenhas não se demoveu, e, no dia seguinte, confirmava aos colegas a sua demissão: «É costume dizer-se que, se deixarmos passar 24 horas sobre os acontecimentos, diminui a revolta. Comigo está a acontecer o contrário. Mesmo que a escola modifique o sistema de controlo com um enorme pedido de desculpas e um ramo de flores, não posso deixar de pensar que alguém responsável concebeu este sistema humilhante, o que me leva a deduzir a consideração em que tem os professores.» O professor admitia: «O dinheiro faz-me falta (faz sempre falta!), mas faz-me ainda mais falta a consideração e, em podendo ser, miminhos.» E terminava com um «Viva a Liberdade!»
Se havia outros docentes incomodados, a verdade é que o assunto ficou por aqui: a escola não alterou o sistema e hoje todos os professores parecem terem-se adaptado a ele sem problemas. A revolta da Mascarenhas ficou como acto individual. Contactado telefonicamente para comentar o assunto, o jornalista declinou, alegando estar muito ocupado.

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